O discurso elitista, repetido por muitos dos debaixo, atribui a existência ou a criação das malezas sociais no Brasil e, no contexto deste texto, no Alagoas, às pessoas analfabetas ou semialfabetizadas, no dizer do saudoso Paulo Freire.
Dentre as endêmicas malezas, dois fatores sobressaem e predominam na construção da desigualdade social alagoana: a corrupção e a impunidade. Dois substantivos abraçados pelo conhecido entorno corruptível, praticados e administrados por doutores, em dimensão multidisciplinar e nas inúmeras áreas do saber.
Em atividades de controle social constata-se, com suposta surpresa, enorme quantidade de pessoas escolarizadas envolvidas nas teias da corrupção e da impunidade, mas praticamente todas elas utilizando os produtos da, no dizer de Ladislau Dowbor, “economia do conhecimento”: técnicos, bacharéis, especialistas, mestres, doutores e até pós-doutor, como soubemos.
Sem exceção, as gestões representadas por analfabetos, ou semialfabetizados ou por escolarizados estão rodeadas de apenas “doutores” ou destes, mas que agregam à responsabilidade profissional determinado valor científico, encarecendo a corrupção e ampliando a possibilidade de impedir ou retardar o combate à impunidade.
Há tempos, em município sertanejo, tivemos acesso à informação de procedimento que apura o desvio de dinheiro oriundo da cobrança de tributo municipal “menor”, a taxa, em razão da, efetiva ou potencial, utilização de espaço ou de serviço público. Os desviadores são todos componentes do último andar do sistema escolar, dois deles com título acadêmico agregado ao currículo.
Como contraponto, debate de dimensão ético-profissional ganha corpo e aqui, ali, acolá e em além mar, a sociedade reage e pergunta: como ou por que o sistema escolar, no andar das universidades e das faculdades, tem produzido “tantos, digamos, doutores corruptos?”
Por intermédio da imprensa, soube que o alunado da Faculdade de Maceió (FAMA) promove o “I Seminário de Atualidades Jurídicas”, que tem em foco algo como: o combate à má conduta profissional.
Parabéns!
Mas...
Torçamos para que as demais universidades e faculdades, bem como os mais diversos conselhos profissionais foquem o compromisso ético e o dever de honestidade no amplo leque de atuação de cada campo do conhecimento e não apenas no fato da, dentre outros letrados, prisão de dois vice-presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Subseccional de Arapiraca, por práticas de fraude contra o DPVAT.
* José Paulo do Bomfim - reside em São Sebastião e trabalha em Santana do Ipanema; como voluntário, atua no Curso de Noções sobre Administração Pública Municipal, promovido pelo Fórum de Controle de Contas Públicas em Alagoas (FCOP-AL); imeio: fcopal@bol.com.br; blogue: http://fcopal.blogspot.com; texto escrito julho/2008 e atualizado em 04/11/2010.